Encantada pelo universo medieval, boas horas de leitura fluída que tenho conquistado são mergulhadas neste portal criado pelo escritor estadunidense George R.R.Martin. Neste artigo, após concluir a leitura de Guerra dos Tronos, faço uma
crítica literária que estabelece um diálogo entre os capítulos e as cenas, já
que a obra também virou seriado
Diante de um livro com mais de mil páginas dá uma satisfação em saber que as últimas 300 li num mesmo domingo – em que pese haver mais quatro irmãos do mesmo autor, um deles com mais de 1.400 páginas. Ganhei Games of Thrones no aniversário, pouco antes de entrar a primavera de 2013, mas só consegui começar a lê-lo, de fato, uns dois meses depois, pouco antes da viagem de férias, quando nas tardes de veraneio com maresia na ora que o sol a pino e proximidades impedia a exposição da pele, percorria de 100 a 200 páginas e suas casas. Foi só após o retorno para casa e para a vida, mais organizada no ano que se iniciava, que mergulhei na página 300 adiante. Entre as batalhas diárias que travei com os afazeres, houve um tempo em que o pegava para percorrer míseras dez páginas, o que se tornava impotente para concluir um único capítulo. Não por não ter sido ferroada pelo doce da história de George R. R. Martin, 65, mas por ter outras demandas desse mundo de outrora a cumprir.
Mas se a
biografia do autor dão informações como: ele levou seis anos para fazer cada
obra (tenho em mãos a coleção da Editora Leya, com tradução de Jorge Candeias - a edição limitada da caixa, impressa em outubro de 2012), posso afirmar com assiduidade que se pode ler Game of Thrones (GoT) folgadamente em um mês
ou um pouco mais, persistentemente em duas ou três semanas, se só fizer só
isso. Convivi muito com a obra em janeiro de 2014, embrenhando-me em florestas,
subindo montanhas, apalpando pedras de castelos, fazendo uma leitura profunda
das descrições de personagens, espaços, tempos ora medidos pelas “salutares” e
peculiares refeições, ora pelos castigos nas masmorras.
Coloco-me, a
partir de agora, a avaliar em minúcias a obra um de George R.R.Martin,
incluindo as comparações que vi até agora no seriado produzido pela HBO, com as
devidas adaptações, demonstrando meu deslumbramento pelas construções “martinianas”.
Quando me
faltava ainda as cabalísticas 66 páginas para concluir, tive o impulso na pausa
da página mil e a ida ao banho, quando a água limpou a mente e fez surgir o
esboço que abre esta crítica literária. Conclui o livro já com avarias nas páginas,
uma leve orelha e algum amassado na capa, devido às centenas de vezes que abri
e fechei esse portal medieval que sinto tanto me completar.
Entre as
nuances da obra literária com a televisionada, passo a descrever minhas
impressões sobre cada um destes tópicos:
A história
de Daenerys é contínua e única, dividida para o livro;
Meus personagens prediletos
As
diferenças na(s) ferida(s) de Eduard "Ned" Stark
A noite de
amor de Khal e Khaleesi
A subida ao
Ninho da Águia
A Espionagem
e tragédia de Bran
A fidelidade
em Jon Snow
Sansa não é
tão sonsa
Cenários
Etc...
(Este é um artigo em construção... a qualquer momento, novas observações)
A história de Daenerys é contínua e única
A narrativa que envolve a menor Daenerys
é tão intensa e contínua, que já fui levada a pensar que George R.R. Martin
escreveu seu romance como uma obra à parte de Porto Real e Winterfell e,
depois, só a pulverizou pelo livro 1. Claro que essa é uma impressão sustentada
só no livro 1 e até a metade. Basta começar lembrar do Targaryen rei, dos bebês
raptados e mortos, para perceber a ligação tão profunda dela com o trono de
ferro. Você torce o livro todo, mas principalmente na série, para que ela seja
proclamada rainha. Daenerys no trono de ferro é quase surreal, já que só vimos
idiotas lá até o findar desta obra. Sabemos ser a “guerra dos tronos”, mas sua
personagem me é sublime demais para querer só isso.
Quando Aemon, o Senhor Comandante da Patrulha
da Noite revela a Jon Snow seu sobrenome e o peso Targaryen do antigo rei,
queremos mais ainda que Daenerys avance como Khaleesi e detenha o poder, até
porque ela vem como uma rainha justa, libertando os seus escravos. O desfecho
para Dany no livro 1, após todo aquele sofrimento de perder o filho e o marido
lhe é justíssimo e causa muita expectativa espantosa ao leitor. Impressionante
a cena no seriado HBO. Intensa, eletrizante. No livro, é um “deleite”, com
duplo sentido, já que os dragões lhes estavam grudados nos seios repletos de
leite, o que ficou mais leve na versão televisiva. Deleite que só cresce ainda
mais à medida que esperamos os animais se desenvolverem. Esse aumentar de
tamanho vai multiplicando também o poder de sua rainha (aqui já adiantando a
obra 2 adiante... já em leitura). Khaleesi, na série é bem mais madura e, por
isso, firme.
A noite de amor de Khal Drogo e Khaleesi
Quanto às adaptações de cena, saliento
a primeira noite de amor de Dany com Khal Drogo, que não se fez de tristeza com
o toque de brutalidade como na série, mas foi romântica, de fato, após a
cavalgada. Ela admirou Khal desde o primeiro momento e se deu a ele como sua
mulher também desde o princípio, e ele, se deu a ela como seu homem. O capítulo
em que ela destrança seus cabeços, tocando e abrindo seus anéis de guerreiro
que nunca perdeu, se sobressaem à necessidade da cena onde Khal demonstra sua
superioridade masculina.
(...) Drogo tocou-lhe levemente os cabelos, fazendo
deslizar as madeixas loiro-prateadas entre os dedos e murmurando suavemente em
dothraki. Dany não compreendeu as palavras, mas havia calor na entoação, uma
ternura que nunca esperara daquele homem. Pôs um dedo em seu queixo e
ergueu-lhe a cabeça, para que ela o olhasse nos olhos. Drogo erguia-se acima
dela como se erguia acima de toda a gente. Pegando-a agilmente por baixo dos
braços, ergueu-a e sentou-a numa rocha arredondada ao lado do riacho. Depois,
sentou-se no chão diante dela, de pernas cruzadas sobre o corpo, com o rosto de
ambos ao mesmo nível. (MARTIN, 2012, p. 138)
E olha que este capítulo de amor é no
que podemos chamar de começo do livro, eles se amariam muitas e muitas vezes ao
longo das páginas. E quando Dany aprende as artes do amor com suas aias,
enquanto a cena soa com certa insegurança de alguém que quer ter voz e vez, no
capítulo vemos uma menina ganhando, de fato, o coração de Drogo e, de quebra,
de todo o Khal, já que eles se amam na frente de todos, sob o luar. Estas
observações não são uma crítica à interpretação de Emily Clark, que é brilhante
e linda no papel, mas observação quanto à forma como a cena foi tomada.
Claro que a essa altura deu para
perceber que Daenerys é uma de minhas prediletas e, com ela, o anão Tyrion Lannister,
Arya Stark, Jon Snow e seu amigo Samwell
Tarly, além de Jaime Lannister, estes últimos secundários, é verdade, não há narração partindo deles, contudo,
enxergo em Sam e no Regicida, potencialmente, características complexas.
(Escreverei mais
sobre isto)
Cenários
Que dizer dos cenários espetacularmente descritos e tão bem compostos
para a série. Agora me atenho, por exemplo, à subida ao Ninho da Águia, no
livro 1, cujo momento na série passou praticamente em branco. Enquanto rolamos
diversas páginas para chegar ao topo do ninho, em minutos, da captura de Tyrion
por Catelyn, praticamente já no alto do castelo, apresentando-se a Lisa Arryn.
Quantas brilhantes construções, pedras, íngremes subidas, mulas, técnicas que,
se transportadas à cena, tornariam o seriado excessivamente caro em figuração e
cenário. Mas o quanto se perdeu sem mostrar essa técnica. No seriado, o único
sentido que fazia quando o menino mimado Robert Arryn afirmava que queria ver o
homenzinho voar, se fez com a abertura daquele poço, o buraco no meio da sala,
que no capítulo da luta sem tinha. Esta, ocorreu no jardim, ao redor da
estátua, isto sim.
Ainda os telhados de Winterfell, local onde os ávidos pezinhos de Bran correm antes da queda. Queda que, por sinal, foi um tanto diferente no capítulo, em vista da cena. Neste, Bran escutou, de fato, uma conspiração dos gêmeos contra seu pai e havia corrido muito sobre o castelo até chegar no alto onde Cersei e seu amado irmão loiro estavam. Na cena, ele escala só aquele muro e já chega a eles.