Tem um espinho incomodando.
Estará nas costas da blusa? Do sapato? Na perna esquerda? Na cabeça? Isso é
estar estressada – no feminino, porque as mulheres, como eu, têm um ímã para
puxar tarefas e dar conta de todas, porém, com algum custo. Ter muitas coisas a
fazer gera falta de paciência, dores caminhando pelo corpo e explosões de sentimentos.
O corpo dói, o metabolismo clama, o cérebro ferve. O estresse é silencioso.
Pode esquecer que você vai perceber quando ele chegou e se instalou. Quando
menos se der conta vai estar irritada, sentindo a face esquentar e respondendo
a tudo rapidamente como uma forma de se defender. É a autodefesa para ainda
mais atividades a serem cumpridas, mas se você já está dando tanto? O sangue, a
vida, suas melhores ideias, o maior vigor de sua juventude, tudo para o
trabalho, para o investimento no novo projeto, para a empresa em que você está
ligada. Não é só isso. Você aceita porque, no fundo, a aposta é em você mesma.
Vem das cavernas
Pesquisando sobre estresse,
aprendi que se caracteriza como “um mecanismo fisiológico do organismo sem o
qual nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso antepassado das
cavernas não reagisse imediatamente, ao se deparar com uma fera faminta, não
teria deixado descendentes. Nós existimos porque nossos ancestrais se
estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular
é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que, diante do
perigo, enfrentassem a fera ou fugissem”, explica a médica psiquiatra
Alexandrina Meleiro, que trabalha no Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Universidade de São Paulo.
A cada final de expediente você
se arrasta para casa e procura um dos pequenos antídotos diários antiestresse:
seu filho, sua casa, seu sofá, um livro, um filme, uma revista, uma música, seu
hobbie, um carinho, sua cama. Mas o
despertador logo toca. É outro dia. As forças vêm do além e você se levanta da
cama para mais um dia de batalhas.
No suor ao longo do dia, tem como
um flash a lembrança de sua casa e o cheirinho do seu lar com o calorzinho do
abraço de seu filho e de seu amor invadindo seu corpo como um arauto. A mente
se turbina e novas ideias nascem para concluir a tarefa da hora.
Mulher maravilha
Conceber um novo e grande projeto
sobre estresse é cruzar a ponte enfrentando tempestades e se sentir uma super
heroína, uma “mulher maravilha” ao final. Foi essa a sensação que tive quando
concluímos o Caderno Especial 60 Anos de
Pato Branco que você lê junto a esta edição. Três dias se debruçando, de
intenso trabalho, totalmente concentrada na história de nossa cidade por, no
mínimo, 12 horas por dia. Na matemática, 36 horas, de 72: só pensando em Pato
Branco. Mais que isso, nos educadores e crianças que vão ler essas 32 páginas
na escola e aprender muito sobre porque somos hoje assim, poderão projetar o
futuro; em ter contribuído para eternizar uma parte da história
pato-branquense, nesse suplemento tão bonito que me deu orgulho em editar.
Agarrada à amiga de longa data e colega de mesa Marcilei Rossi, demos longas
braçadas no mar de informações e pudemos entregar tudo nas mãos do meu querido
Lucas Piaceski para aplicar a arte-final.
No jornal é assim – semelhante ao
supermercado ou comércio. Uma seleção de palavras especiais que colhemos do
jardim de nosso conhecimento durante todo o ano, mas do qual nascem espécies
diferenciadas a cada fim de ano, porque cada produto (ou serviço) que se faz
tem uma aura muito especial. Fim de ano o trabalho aumenta, estressa. Mas
depois que a gráfica conclui a parte dela percebemos o quanto valeu a pena cada
“esquentada de cabeça”.
Resiliência
Leio revistas sempre, assim como
boa parte da população. É líquido e certo, as edições de final de ano trazem
sempre reportagens sobre o assunto, o antídoto do estresse. Estamos todos
acostumados em esperar aquela formula básica de ver sobre “paciência e
resiliência”. Vem com a proposta de ser “fórmula mágica”, isso sim. “Preciosas
lições para aumentar sua capacidade de se levantar e sacudir a poeira” está na Claudia de novembro, página 180. Durante
o texto, outro psicanalista, o Jacob Pinheiro Goldberg, autor de O Direito no Divã (Saraiva) dá algumas
lições sobre como se tornar mais resiliente e mais forte – quando a vida
exigir.
Na física, a resiliência é a
capacidade de certos corpos de retornar à forma original, após sofrer tensão e
se deformar. Por empréstimo, é o nome que se dá à nossa capacidade de superar
traumas e dores e resgatar o prazer pela vida. Quanto maior, mais chances
teremos de não nos abater com os solavancos e os tombos.
As dicas trazidas no livro de
Goldberg têm relação direta com o autoconhecimento: enxergar que o sofrimento e
o cansaço também nos fortalece; perceber que a rotina é fundamental numa crise
– e isso inclui encontrar os amigos, ir a festas e cumprir com suas tarefas do
dia a dia; tentar sorrir, mesmo sem vontade e viver intensamente o luto e a
tristeza, quando for o caso, pois é melhor curtir o nesse momento do que deixar
a dor invadir as esferas da vida; adicionar arte à sua rotina; projetar o
futuro; e se doar para melhorar a vida dos outros, pois essa generosidade vai
melhorar a sua também.
Espinhos e flores entrelaçadas
Ao concluir as últimas linhas do
dia, foi abrindo a porta do carro, em frente ao jornal, que percebi o quanto as
costas ardiam. Olhei para o lado e vi uma árvore de espinhos entrelaçada com
uma de hibiscos ostentando flores vermelho vivo se nutrindo da chuva que havia
caído à tarde. Espinhos e flores entrelaçadas. “Se as flores são tão lindas,
que triste a vida desses espinhos”, pensei. Mas reparando melhor, vi que a
maior sombra era a da árvore de espinhos. Ela era que tinha protegido o carro o
dia todo. Percebi que na vida também é assim. É preciso saber enxergar a fase
mais nebulosa como uma oportunidade de fortalecimento. Era tarde. Voltei ao
carro e peguei a câmera. Comecei a clicar espinhos. Esses que você vê na capa
desta edição. Entre um ajuste e outro, um clique e outro, fui “desestressando”
e ficando feliz por ter uma boa foto para mais uma edição. Afinal, outro dia
estava pra nascer.
“Comecei a clicar espinhos. Esses
que você vê na capa desta edição. Entre um ajuste e outro, um clique e outro,
fui “desestressando” e ficando feliz por ter uma boa foto para mais uma edição.
Afinal, outro dia estava pra nascer”.
O que o estresse faz no organismo
Pequenos problemas do dia a dia, em longo prazo, acabam criando uma situação
de estresse. É fundamental estar alerta para os sinais que o corpo registra
- O estresse é uma defesa natural
que nos ajuda a sobreviver, mas a cronicidade do estímulo estressante acarreta
consequências danosas ao nosso organismo.
- Embora a tendência do indivíduo
seja elaborar estratégias para resolvê-las, muitas vezes, ele vai se adaptando
às exigências do chefe intransigente, à situação econômica difícil, aos revezes
do dia a dia.
- Se não conseguir criar essas
estratégias, seu organismo não irá reagir convenientemente diante dos problemas.
- Seu corpo dará sinais de
cansaço que podem afetar os sistemas imunológico, endócrino, nervoso e o
comportamento do dia a dia.
- A continuidade dessa situação
afeta a pessoa, exaurindo suas forças e ela cai num estado de exaustão, de
estresse propriamente dito.
- Caso não consiga reverter o processo, as consequências não tardarão a
surgir:
- aumento da pressão arterial
- crises de angina que podem
levar ao infarto
- dores musculares
- dores nas costas
- dores na região cervical
- alterações de pele