Os primeiros acordes anunciam que a voz de Norah Jones viria suave em
seguida com "Young Blood". Assim toca meu despertador às 5h40 da manhã,
todas as quartas e quintas-feiras, há quase três meses, nos quais venho
cultivando uma relação muito saudável e de intenso aprendizado com
crianças e adolescentes dos 11 aos 15 anos: são minhas turmas do 6º ao
9º ano, do Ensino Fundamental 1. Tenho cinco turmas para chamar de
“minha”. Quando me graduei em Letras Português e Literaturas de Língua
Portuguesa, esse era o desejo mais intenso: poder dar a minha cara para
as aulas, sendo professora regente – coisa que não se consegue como
estagiária.
As aulas da manhã começam às 7h30, mas o detalhe é que leciono em Francisco Beltrão e, residindo em Pato Branco, tenho que sair de casa no máximo 6h20 da manhã, para viajar e lecionar com segurança. Não dá para negar que o madrugar seja um choque ao intelecto e, ao conciliar essa rotina com o exercício jornalístico, um desafio, pois a dedicação às matérias se intensificou como editora de suplementos do Diário do Sudoeste, casa onde estou há exatos sete anos e meio. Contudo, é um cenário muito compensador, pois a cada dia tenho a sensação de, em sala de aula ou na redação, colocar um tijolinho para melhorar o mundo.
Ser escritora era um desejo da adolescência: 13 anos. Foi nessa idade que as palavras me fisgaram de vez e comecei a guinar para a profissão de “jornalista”, já que lendo biografias, descobri que a maioria dos escritores trabalhava como tal, tendo papéis, linhas, tinta, divulgação de notícias e ensinamentos como instrumento de trabalho. Passados mais de dez anos eis que, como jornalista, percebi que incutia nas matérias o desejo de construir um mundo melhor, buscando formas e caminhos “educadamente” possíveis para isso. O exercício de jornalismo literário vive em mim quase como uma necessidade de alimentação do espírito. Então surgiu o curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Após mais quatro anos e meio de estudos veio a graduação, o que me abriu as portas para começar a lecionar neste ano de 2012, no Colégio Águia de Francisco Beltrão.
É numa pasta rosa e branca com diversos compartimentos que acondiciono as dezenas de textos que os alunos produzem a cada quarta e quintas-feiras. Em casa, após fazer uma leitura minuciosa em cada linha, vem a sensação de satisfação ao ver nas folhas uma evolução em coerência, coesão e abordagem de tema que impulsiono em sala de aula.
Se fosse para dar uma geral no vício escolar da garotada de hoje, poderia arriscar dizer ser a pouca preocupação com a “caligrafia”. Na era da tecnologia e dos botões, o maior esforço de um professor talvez seja decifrar os hieróglifos que nascem das mãos de alguns alunos. Mas é inegável que essa Geração Y, para quem lecionamos, agora dispõe de uma riqueza de ideias e recursos que deixaria nossos textos escolares num estado perdedor em termos de comparação.
Como “professora-jornalista”, ensino produção textual e linguística (gramática) também. Como “jornalista-professora”, a experiência na educação vem nos últimos três anos junto aos editores-mirins do projeto Diarinho Cultural do Sudoeste do Paraná, alunos dos 4º e 5º anos da rede municipal de 13 municípios do Sudoeste.
Se a comunicação é um instrumento em comum entre professores e jornalistas, é inegável que essas áreas se conversam, por isso, acredito que essa ponte, por vezes um tanto desvairada, tem dado certo.
Mesmo sendo íntima das palavras, para quem ama a profissão é quase indefinível encontrar um termo que bem transporte a sensação de ser chamada de “professora”. Por isso é preciso fechar esse texto registrando algumas impressões desde o momento em que a coordenadora pedagógica Franciele me apresentou aos alunos. Caminhos que percorrem a técnica e a relação social.
Com o 6º ano, a palavra “respeito” teve que ser escrita no quadro por algumas aulas, mas hoje existe um acordo de cavalheiros de erguer a mão para falar e, no papel, soltar “o verbo” e a imaginação. Com os dois 7º anos, seara de criatividade, ganho surpresas positivas de produção a cada semana, onde a sincronização de conteúdos das turmas dá aos alunos iguais oportunidades de aprendizado, o que rendeu textos, vídeos, apresentações musicais e até de um teatro na Mostra de Talentos do Águia, no final desse mês de outubro. Com o 8º ano, é a união da turma e o carinho de uns para com os outros que dão a maior lição de convivência e de conhecimento. Meu pedido: “deem mais balões” para crescermos ainda mais em criatividade textual. E com o 9º ano, no alto de seus 13 e 14 anos, há um misto de personalidades caracterizado já com algumas aspirações de futuro. Não posso deixar de registrar uma experiência relâmpago como professora substituta dando uma primeira aula de quarta-feira para o segundão do Médio. Com a mesma característica estrutural do 9º ano – sala numerosa (leia-se 25 a 30 alunos), o professor fica num palco – vi nos rostos desses jovens a natural evolução das séries escolares, temperado com um interesse muito peculiar de participação. Quando o sinal bateu, saí da sala querendo extrair deles muito mais, a partir das sementes venho selecionando para plantar e compartilhar.
De folha em folha preenchida com “caligrafia”, é inegável que os dias em casa nunca mais foram os mesmos, pois os fins de semana são sempre povoados de textos para corrigir, intercalados com o plantão na redação do jornal. Se o trabalho não fosse minha vida, daria pra dizer que quase não sobra um bom tempo para viver.
As aulas da manhã começam às 7h30, mas o detalhe é que leciono em Francisco Beltrão e, residindo em Pato Branco, tenho que sair de casa no máximo 6h20 da manhã, para viajar e lecionar com segurança. Não dá para negar que o madrugar seja um choque ao intelecto e, ao conciliar essa rotina com o exercício jornalístico, um desafio, pois a dedicação às matérias se intensificou como editora de suplementos do Diário do Sudoeste, casa onde estou há exatos sete anos e meio. Contudo, é um cenário muito compensador, pois a cada dia tenho a sensação de, em sala de aula ou na redação, colocar um tijolinho para melhorar o mundo.
Ser escritora era um desejo da adolescência: 13 anos. Foi nessa idade que as palavras me fisgaram de vez e comecei a guinar para a profissão de “jornalista”, já que lendo biografias, descobri que a maioria dos escritores trabalhava como tal, tendo papéis, linhas, tinta, divulgação de notícias e ensinamentos como instrumento de trabalho. Passados mais de dez anos eis que, como jornalista, percebi que incutia nas matérias o desejo de construir um mundo melhor, buscando formas e caminhos “educadamente” possíveis para isso. O exercício de jornalismo literário vive em mim quase como uma necessidade de alimentação do espírito. Então surgiu o curso de Letras Português e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Após mais quatro anos e meio de estudos veio a graduação, o que me abriu as portas para começar a lecionar neste ano de 2012, no Colégio Águia de Francisco Beltrão.
É numa pasta rosa e branca com diversos compartimentos que acondiciono as dezenas de textos que os alunos produzem a cada quarta e quintas-feiras. Em casa, após fazer uma leitura minuciosa em cada linha, vem a sensação de satisfação ao ver nas folhas uma evolução em coerência, coesão e abordagem de tema que impulsiono em sala de aula.
Se fosse para dar uma geral no vício escolar da garotada de hoje, poderia arriscar dizer ser a pouca preocupação com a “caligrafia”. Na era da tecnologia e dos botões, o maior esforço de um professor talvez seja decifrar os hieróglifos que nascem das mãos de alguns alunos. Mas é inegável que essa Geração Y, para quem lecionamos, agora dispõe de uma riqueza de ideias e recursos que deixaria nossos textos escolares num estado perdedor em termos de comparação.
Como “professora-jornalista”, ensino produção textual e linguística (gramática) também. Como “jornalista-professora”, a experiência na educação vem nos últimos três anos junto aos editores-mirins do projeto Diarinho Cultural do Sudoeste do Paraná, alunos dos 4º e 5º anos da rede municipal de 13 municípios do Sudoeste.
Se a comunicação é um instrumento em comum entre professores e jornalistas, é inegável que essas áreas se conversam, por isso, acredito que essa ponte, por vezes um tanto desvairada, tem dado certo.
Mesmo sendo íntima das palavras, para quem ama a profissão é quase indefinível encontrar um termo que bem transporte a sensação de ser chamada de “professora”. Por isso é preciso fechar esse texto registrando algumas impressões desde o momento em que a coordenadora pedagógica Franciele me apresentou aos alunos. Caminhos que percorrem a técnica e a relação social.
Com o 6º ano, a palavra “respeito” teve que ser escrita no quadro por algumas aulas, mas hoje existe um acordo de cavalheiros de erguer a mão para falar e, no papel, soltar “o verbo” e a imaginação. Com os dois 7º anos, seara de criatividade, ganho surpresas positivas de produção a cada semana, onde a sincronização de conteúdos das turmas dá aos alunos iguais oportunidades de aprendizado, o que rendeu textos, vídeos, apresentações musicais e até de um teatro na Mostra de Talentos do Águia, no final desse mês de outubro. Com o 8º ano, é a união da turma e o carinho de uns para com os outros que dão a maior lição de convivência e de conhecimento. Meu pedido: “deem mais balões” para crescermos ainda mais em criatividade textual. E com o 9º ano, no alto de seus 13 e 14 anos, há um misto de personalidades caracterizado já com algumas aspirações de futuro. Não posso deixar de registrar uma experiência relâmpago como professora substituta dando uma primeira aula de quarta-feira para o segundão do Médio. Com a mesma característica estrutural do 9º ano – sala numerosa (leia-se 25 a 30 alunos), o professor fica num palco – vi nos rostos desses jovens a natural evolução das séries escolares, temperado com um interesse muito peculiar de participação. Quando o sinal bateu, saí da sala querendo extrair deles muito mais, a partir das sementes venho selecionando para plantar e compartilhar.
De folha em folha preenchida com “caligrafia”, é inegável que os dias em casa nunca mais foram os mesmos, pois os fins de semana são sempre povoados de textos para corrigir, intercalados com o plantão na redação do jornal. Se o trabalho não fosse minha vida, daria pra dizer que quase não sobra um bom tempo para viver.
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