terça-feira, 12 de novembro de 2013

CONTO FANTÁSTICO: A Nação de Vampiros, de Anna Luiza Nacke


Apaixonada pelo sobrenatural, minha aluna do primeiro ano do ensino médio de Francisco Beltrão, Anna Luiza Nacke, produziu este conto em primeira pessoa criando como narrador um personagem bastante dono do destino: Tio Jimmy, protetor da pequena Marry. Se você já assistiu ao filme Underwold (2003), Anjos da Noite no Brasil, pode reconhecer alguns dos elementos que Anna trouxe ao seu conto. Por isso escolhemos para ilustrar este post uma cena do longa. Mas sua produção tem sutis toques de originalidade. Como estamos estudando o "Conto fantástico" - em que pese Anna ter criado este texto antes de entrarmos sistematicamente no conteúdo - consideramos muito apropriado socializar a sua criação. Aprecie!

Ilustração Underworld (2003)

Há muitos e muitos anos atrás, havia na Terra uma nova espécie de seres humanos, que não eram exatamente humanos, mas enfim. Eram humanos geneticamente modificados.
Vampiros e Lycans conviviam juntos em pedido de paz e harmonia, até que tudo aconteceu...Uma jovem Vampira se apaixonou por um Lycan,que infelizmente não era o Alpha.Os dois apaixonados que temiam com a ira de seus pais caso descobrissem (já que era uma paixão proibida, porque pela lei declarada pelos reis, Lycans e Vampiros nunca deviam se misturar). Tentaram fugir como Romeu e Julieta pela escura e sombria floresta de Radagast. Mas...não deu muito certo. Por causa de um pequeno detalhe que a jovem esqueceu, é que quando se quebra uma promessa, sempre vem a consequência. E quando se trata de Vampiros, ah! Ai f...! Porque não importa o quanto corra ou aonde se esconda, sempre te acharemos pelo próprio cheiro... ”O cheiro do medo”.
Acho que vocês sabem qual é o preço que se paga por uma traição, não? Bem, se não me falha a memória, a extinção de Vampiros e Lycans aconteceu em pleno séc.XIX, em um pequeno vilarejo numa manhã fria e cheia de neve. E como sempre, claro,eu estava lá.Para quem não sabe, eu era o general do exército do pai de Rady. Aquela Vampirinha ingrata que negou o meu amor para ficar com aquele animal peludo e fétido, mais conhecido como Guilherme ou se preferir, o sobrinho do rei dos Lycans Theodore II.
Ah... Aquela menina de pele gelada e com aqueles cabelos curtos, negros e ondulados, com corte estilo Chanel. Quanto ódio eu tenho dela! Tenho que admitir que lutei com gosto de ver aquelas cabeças gigantes sendo arrancadas por nossas afiadíssimas e reluzentes espadas de prata.
“-mas tio Jimmy, Vampiros não são mortos com a prata?”
- hahahahahaha, não minha criança, não são. Assim como não somos mortos com estacas no coração (isso apenas nos paralisa), não queimamos com a porra da cruz e muito menos, não queimamos com a merda da água benta. –respondi. Marry com um sorriso maligno- Isso é crendice só de lobisomens e não de Lycans, talvez desse... mas não, essa merda não iria  funcionar naquelas “cabeçonas”... E vocês humanos idiotas, parem de criar essas crendices estúpidas. Afinal a única coisa que acertaram é que nós odiamos o alho. Porque aquele cheiro forte irrita muito nossos olfatos sensíveis.
“-Mas tio... se não funciona, porque a espada tinha que ser de prata e não de ferro?”
“- porque pegar um lixo se podemos ter o luxo! -respondi com um sorriso sarcástico- Droga Marry! (dei um soco na mesa) agora eu me perdi! Será que você poderia calar a boca e deixar contar a minha história em paz, ok?! Ótimo! agora. Onde eu estava mesmo?”
“- Nas decapitações dos Lycans”-respondeu ela soltando um ar entediante.
Ah sim! Eu lutei com gosto de ver aquelas cabeças enorme, voando com nossas espadas de prata.
Mas não foi uma guerra agradável, Mesmo estando feliz, muitos membros de nosso clã morreram. Gente inocente,pobres e crianças, todos caídos naquele mar de sangue gelado.Só restaram três de nós. Eu, Corry e Miguel.Como prometi ao meu rei que daria o castigo que sua filha merecia, já como falei no início, que quando você foge, sempre te acharemos, partimos imediatamente à procura daquela belezinha.
Foram quatro dias de corrida, mas finalmente consegui achar os dois pombinhos fujões, através do horrível cheiro daquele Lycan, onde resolveram dar uma acampada no topo da cachoeira de Mithandir. E como eu já esperava,Guilherme já reparara em minha presença e aquele maldito em um Lobo de aproximadamente 2m de altura, correndo em minha direção para me matar.Mas, rapidamente peguei minha espada e ainda por cima,tive a incrível capacidade de errar o golpe. Já ele, conseguiu agarrar meu braço e arrastar-me pelo rochedo.
Rangendo de dor, só tinha força para dar apenas mais um golpe, e ainda com o esquerdo que sou péssimo, pois os dentes daquele filho da mãe amorteceram o meu braço bom. E com isso, o máximo que consegui foi cegar-lhe os olhos, fazendo com que ele me soltasse.Grunindo e gemendo de dor, Guilherme se joga de joelho no chão cobrindo com as mãos a face ensanguentada.
Rady assustada tentou ajudar seu namoradinho, mas Corry saiu correndo e deu-lhe um forte soco no estômago, fazendo com que ela fosse arremeçada no ar e caísse ao meu lado. Aproveitando de sua situação frágil, com uma chave de braço, segurei-a em meu colo e fiquei ali, escorado em uma rocha esperando o sol nascer, enquanto Corry e Miguel, muito atentos,esperavam Guilherme voltar a ser humano. E assim fez.
Quando Guilherme voltou a ser humano, Corry rapidamente prendeu seus braços e Miguel com força, conseguiu quebrar o pescoço dele. E eu, claro, obrigando Rady a ver cada cena daquele trágico filme de romance.Logo, Corry e Miguel vieram até nós e sentaram-se ao meu lado e assim, juntos aproveitávamos a bela paisagem, olhando fixamente para a linha do horizonte.
Então, quando o primeiro raio de sol começou a surgir,Rady começou a ver a luz ficando cada vez mais perto de alcançá-la, e começou a se debater, tentando soltar-se, mas como eu a segurava firme, de nada adiantou. Até que um certo momento, Rady parou de se debater,olhou para mim com aqueles olhos azuis cheio de lágrimas e disse com raiva:
“-Eu te odeio”
Apenas olhei-a e dei um sorriso malicioso e falei sussurrando em seu ouvido.
“-E eu te amo meu doce”-logo em seguida, dei-lhe um beijo suave na testa, passei às mãos em seus cabelos, como um gesto de carinho, para sentir pela última vez, aquela maciez se entrelaçando entre meus dedos, apoiei a cabeça dela no meu peito, e ela começou a soluçar.
Então, logo vi gritando em desespero e queimando-se no meu colo. Em seguida não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo.Bem ali,no meio das cinzas que estavam em cima do meu joelho ,algo estava se mexendo, desesperado e curioso, comecei a tirar as cinzas...
“- E foi assim que te achei Marry”.
“-Então... Você matou minha mamãe e meu papai? - perguntou ela me encarando séria.
“-Não querida”-falei pegando-a e colocando-a em meu colo. ”-Quem matou seu pai foi Miguel e sua mãe morreu por causa do sol. Mas um dia, a nação de vampiros ressurgirá e você poderá se vingar de todos.”
“-Mas porque você não morreu queimado também Tio Jimmy?”
“-Porque fui mais inteligente que sua mãe. Eu estava com roupa adequada, tudo de couro. Sua mãe de tão distraída que era, esqueceu de ir preparada. Ai deu no que deu.”
“-Hum. Então tá.”- disse ela me devolvendo o sorriso.
“-Parece que minha morceguinha está começando a ficar com soninho. Já não é hora de ir dormir?”-Indaguei.
“-É mesmo!”-respondeu ela apertando as duas mãos contra a bochecha e fazendo cara de espanto. O que me fez dar risada-“Boa noite Tio Jimmy”-e saltou na cortina,pendurando-se de cabeça para baixo.
“-Boa noite Marry querida, e durma com os anjinhos”-respondi com doçura.
“-Que nojo!”-exclamou ela “-durma você!”-nós rimos e depois dei-lhe um beijo na testa fazendo-a adormecer. Subi os 2 lances de escadas e fui para o meu quarto.Mas antes de deitar na cama e dormir (sim,nós Vampiros temos sono e também, preferimos dormir em camas e cortinas ao invés daqueles caixões desconfortáveis. E vocês que se danem com essas idéias de que vampiros não dormem) fui até a varanda:
“-Boa noite Rady.Onde quer que você esteja”-dei uma respirada profunda e fiquei com aquele olhar “deprê” observando o céu, pois sentia muita falta dela. Ai fui me deitar. Quando estava quase dormindo, algo me acorda com uma leve sacudida no ombro.Era Marry.
“-Tio Jimmy,tive um pesadelo e não consigo dormir”-falou ela murmurando e coçando o olho,esperando uma resposta.
“-É mesmo? ’-perguntei-” E como era?”
“-Era sobre uma nova guerra Tio”-disse ela sentando ao meu lado na borda da cama. “’-Só que desta vez, foi de humanos e vampiros.Não quero que a gente morra Tio”-deu um gritinho e escondeu-se debaixo das cobertas, porque se assustou com um trovão.
“-hahahahaha”-Ri eu quando só vi dois olhinhos me encarando “-Marry querida, isso é só um pesadelo, nada vai acontecer”-respondi calmamente.
“-E se acontecer?”-Insistiu ela, só que dessa vez sussurrando.
“-Bom...”-comecei- “se isso acontecer, nós estaremos preparados, pois a nação dos vampiros vai estar viva de novo, e eu sempre vou estar aqui ao teu lado, te protegendo meu doce. Não vou deixar que nada aconteça com você.”
“-sempre?!”-perguntou ela com incerteza.
‘-sempre. ”-afirmei com a cabeça- “mas me diga uma coisa...Porque estamos sussurrando?”
“-eu não sei”-respondeu ela dando risada-“te amo Tio Jimmy”- e me deu um forte abraço.
“-eu também te amo Marry”-respondi-“agora vamos dormir?”
“-vamos! ’-disse ela decidida, me deu um beijo na bochecha, me abraçou forte e adormeceu. E eu fiz a mesma coisa.
Hoje tenho 84 anos e Marry se tornou a melhor guerreira que já vi. A nação de Vampiros ressurgiu e ela, assim como eu, acabou se tornando a general do clã. Nunca tive tanto orgulho dela quanto hoje.



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