“Gosto de criar uma aproximação com a plateia quando brinco com alguma coisa daquela cidade que a pessoa se identifica”
Daiana Pasquim, jornalista e professora
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O
sino bateu às 18h do Dia Internacional da Mulher do ano de 1969, e Diogo
Portugal estreou para a vida, em Curitiba (PR). Hoje ele roda o país inteiro,
conhecendo todas as redes de hotéis brasileiras, concretizando em parte aquele
sonho de menino de ser “dono de uma rede de hotéis”. Se hoje ele é um dos nomes
que representam a nova cara do humor brasileiro, a vida de humorista não
começou fácil não. Filho de desembargador, revelou nessa entrevista o quanto
deixou seus pais deslocados quando era expulso da escola por fazer peraltices.
Era quando estava formatando as bases para essa profissão que o fez ficar tão
conhecido e, de quebra, leva por todos os cantos a raiz do Paraná. Para Diogo
Portugal, é o humor que escolhe a pessoa. Você não escolhe ser humorista. E
para se tornar um, primeiro seus amigos devem dizer que você serve pra coisa. Do
torto aos investimentos em ingressos, conta que começou a fazer humor em
barzinhos, com a plateia bem mais do que levemente alcoolizada.
Foi
por trás das imensas e vermelhas cortinas do palco do Teatro Municipal Naura
Rigon de Pato Branco que ele gentilmente concedeu essa entrevista perfil
exclusiva do Diário do Sudoeste,
instantes antes de iniciar o Stand-up
Comedy Hã?! no sábado (13). Foi quando revelou algumas coisas sobre sua
vida, mas também quis saber da reportagem o que era “assunto quente” por aqui,
para improvisar piadas personalizadas: grande preocupação de Portugal, fazer
com que o público se aproprie daquele momento, se identifique e vivencie. Por
isso abre o stand up logo pedindo
palmas “porque nunca sei se isso será possível no final”, ironiza e, também
conceitua: isso não é bem um show, é mais uma “terapia em grupo”. Por isso, as
lombadas de Pato Branco, as “trincheiras” entre o asfalto daqui a Francisco
Beltrão, bem como Mariópolis e Vitorino foram envolvidos em piadas que fizeram
o teatro lotado gargalhar quase ininterruptamente por uma hora e um pouco mais.
O
que mais predominou em suas piadas foi a filha de quase um ano, principal
mudança na vida de Diogo Portugal da segunda, para esta terceira vinda a Pato
Branco. Não à toa, é um dos nomes mais fortes do stand-up brasileiro. Criador e curador do Risorama, maior festival
humorístico da América Latina que acontece todos os anos durante o Festival de
Teatro de Curitiba, foi a terceira vez que veio a Pato Branco.
Outra
revelação de sua vida humoristicamente feita no palco é que “minha família é
ligada à dramaturgia, são todos advogados. Minha mãe não aprova as coisas que
eu falo aqui, ela é muito religiosa. Vai tanto à missa que está com
“hóstioporose”, satiriza.
Camisa
xadrez por sobre a camiseta descolada, jeans e tênis, mas cara limpa. Versátil,
ele vai do Stand-Up Comedy – a chamada comédia de cara limpa, sem figurinos ou
personagens – às tradicionais esquetes, encarnando os tipos mais hilários e
diferentes. Por isso quer voltar a Pato Branco com “Portugal é Aqui”, peça em
que aparecem todos os seus personagens: office-boy Elvisley, a Dani Ficado,
Marlene Marluce Catarina, Ediomar - O porteiro, Pamela Conti, a ex-prostituta,
o marombado Bomba, o publicitário Carlos Umberto Modesto.
Na
televisão integrou em 2009 o elenco do programa “Zorra Total”, da TV Globo, como
Elvisley, e na RPC, o quadro “Louco
de Bom”, em que faz sátiras do dia a dia, misturando stand-up comedy e
interpretação de personagens. Participou também do programa do Jô e do Domingão
do Faustão, com grande repercussão na internet. Esteve entre os finalistas do
primeiro Prêmio Multishow do Bom Humor Brasileiro, ao lado da comediante
Cláudia Rodrigues, do programa “A Diarista” da TV Globo, e do concurso de
humoristas do Fantástico, em 2005. Diogo Portugal está entre os humoristas mais
vistos na internet. Você pode buscar lá e ler aqui, para fazer uma viagem ao
humor contemporâneo com raízes no Paraná:
Quando você era só o menino Diogo, o que
queria ser quando crescesse?
Eu
queria ter uma rede de hotéis, porque brincava de jogo imobiliário e me lembro
que nesse jogo se podia ter vários hotéis. Hoje, a ironia da situação, é que
acho que conheci todas as redes de hotéis do Brasil, porque minha vida é de
hotel em hotel. Parece que o feitiço rolou contra o feiticeiro. Não sou dono
dos hotéis e sou obrigada a ficar neles.
Você era um menino muito bagunceiro? Qual
é a profissão de seus pais?
Meu
pai era desembargador, um cara magistrado, homem muito correto e cheio de
respeito e pompas. Sempre foi obrigado a viver situações constrangedoras ao meu
respeito. Eu era mandado para fora do colégio porque fazia uma gracinha. Sempre
essa coisa. Então, se fizer uma releitura da vida, essa coisa de fazer uma
gracinha é o que eu continuo fazendo, mas agora mais profissionalmente. Mas eu
sempre era mandado pra fora da sala, suspenso, e meu pai ficava com muita
vergonha no começo. Tentei fazer várias outras coisas da minha vida até... eu
falo que o humor é uma profissão que escolhe a gente, não é você que escolhe.
E em que momento da sua vida o humor
realmente te pegou e você disse: vou trabalhar com isso?
É
importante que as pessoas em volta de vc falem que você tem talento, para você
também acreditar. Outras coisas foi alguns desafios que apareceram, tipo o
festival do Canal Multishow em 1997, mas eu fiz várias coisas, trabalhei com
publicidade, muito na área de criação.
A criação é a sua praia. Você costuma
colocar suas piadas no papel fazendo um “roteirinho” ou o que surge você bola
na cabeça?
Não.
Até queria te perguntar algumas coisas sobre Pato Branco para ver se consigo
levar para o palco agora. Cheguei um pouco em cima da hora, estava meio
gripado, precisei descansar e não tive esse tempo. Vai fluindo, mas eu tenho no
roteiro um esqueleto programado das piadas que eu quero fazer e sei que
funcionam.
Quais são os humoristas que você tem
como inspiração no país e no mundo?
Sempre
gostei muito aqui no Brasil do Chico Anísio, sempre achei um cara muito legal
cheio de personagens e acho que me ensinou muito. Quando eu queria muito ser
humorista, me inspirava muito nele, achava ele muito legal. Mas depois eu
conheci comediantes americanos muito bons, como George Carlin, que falava
coisas absurdas assim. Tinha um cara que se chamava Jerry Seinfeld que fazia
humor do nada, de observações do nada. Lia uma caixa de remédio e fazia uma
piada. Aquilo me inspirou muito no stand up. Mas personagens, participei de uma
noite de São Paulo que se chamava “Terça Insana” e também me joguei muito nessa
coisa de criar tipos assim.
E os humoristas que nunca são bons
exemplos pra você?
Puxa,
se o cara é humorista, já é um bom exemplo (risos). É lógico. Veja o caso do
Rafinha Bastos, por exemplo, ele é um cara sensacional, acho ele muito
inteligente, é um ótimo humorista. O fato de ele ter peitado coisas e falado
absurdos, ele foi muito julgado por uma besteirinha. Sou fã do Rafinha e
trabalhamos juntos, acho ele bom. Ele é bom mesmo. Não é o meu estilo de humor.
Quem vê o meu show percebe que é diferente. Eu não tenho um show que é só,
vamos dizer, insultos e agressividades ou algo do gênero. Não tenho só
críticas, tipo o Rafinha vai muito na parte do “Departamento de Reclamação”, o
show inteiro. Acho que ele foi muito julgado por pouca coisa.
Você acha o caso do Rafinha parecido com
o do Cauê Moura?
O
Cauê Moura, se de repente tivesse chegado pro Latino e falado “vai tomar no cú
mesmo”, entendeu? Mas ali no caso dele foi pior ainda, porque acho que o Latino
deveria ter feito uma resposta na piada também e não do jeito que foi. Aquilo
ficou mal pro Cauê Moura, mas eu entendo também o lado do Cauê Moura, porque,
poxa, está começando agora, não tem que se queimar, não tem toda essa bagagem e
não tem também tanto dinheiro guardado pra ficar tomando risco, entendeu? Que é
coisa que o Rafinha já tinha. O Rafinha já estava rico. Então ele pegou e
mandou “se foder mesmo”, que era o que ele sempre queria ter feito.
O stand
up é considerado um dos gêneros mais difíceis. Com bastante prática nisso,
está sempre fazendo shows, mas ainda assim tem sempre o friozinho na barriga,
ou não?
Sim,
sim. Eu nunca sei como que vai ser. A plateia pode estar legal, pode não estar.
Eu tenho essa coisa da provação, “Ah, o Diogo, mas ele já veio pra cá” “Ah, vou
ver de novo”, “Ah, mas ele é do Paraná”. Sabe, tem essa coisa de que você não
brilha tanto na sua terra, quanto fora dela.
Você acredita que o humor brasileiro
está na sua melhor fase?
É
uma boa fase, mas não sei se é a melhor, porque antigamente a gente tinha
programas tipo o TV Pirata que era muito bom. Não podemos esquecer do começo do
Casseta e Planeta também. A gente não pode nunca desprezar esse tipo de humor,
porque todos nós humoristas “bebemos muito dessa fonte”. Do que eu sou mais fã
mesmo era de Chico Anysio, aprendi muito com ele.
“Quero dizer que adoro esse teatro, ele é bem aconchegante, tem um clima bacana para show de humor. Eu sou paranaense, então me sinto um pouco em casa fazendo show em meu próprio Estado”
CRÔNICA
O retorno com cara de “Hã?!
Daiana Pasquim
Ele faz a muitos rirem com a cara mais séria do
mundo. Se você precisa espantar alguma amargura, esquecer um pouco seus
problemas tem que ir ao Teatro Municipal Naura Rigon de Pato Branco, na noite
desta sábado para assistir ao stand up
comedy com Diogo Portugal, às 21h. Paranaense, é dos nomes mais fortes do Stand Up nacional e concedeu uma entrevista exclusiva por telefone
ao Diário do Sudoeste no final da
tarde desta quinta-feira (11), quando buscava se inteirar sobre o acontecimento
do momento da cidade, para bem elaborar seu show.
“Gosto sempre de pedir
alguma informação pra saber qual é o assunto da hora, pra de repente improvisar
alguma piada que tenha a ver com o público. A gente gosta de pegar alguma
informação local para criar uma aproximação com a plateia quando brinco com
alguma coisa daquela cidade que a pessoa se identifica. A plateia repara que
houve essa preocupação”, adiantou.
O stand up comedy
muda muito, por isso, Diogo Portugal menciona ser preciso piadas novas, textos
novos. “Sempre tem algo novo se inserindo, mexendo aqui e tirando aqui. Quero
ir praí depois com a outra peça com personagem, a peça “Portugal é aqui”.
Com cara de “Hã?!” no flyer, o show foi
divulgado pela mídia nos últimos dias, mas quem quer se antecipar e entrar no http://www.diogoportugal.com.br/
tem quase um diálogo com ele, onde respondemos apenas com risadas. Diogo se
apresenta “este é o meu site, entra aí e fique a vontade” e logo emenda uma
piada “não tão à vontade assim”. Faz algumas mímicas enquanto fica esperando
você clicar em algum item do menu e é difícil não querer ficar olhando ele se
contorcer até que a placa de replay
congele a sua imagem.
Na entrevista ele relativiza e diz: “foi um site
que fiz há algum tempo, mas bem sincero, já estou mudando, em breve deve estar
entrando um site novo. Meu próximo site vai ser muito interessante, em formato
blog, humor não só para falar do Diogo, como para entreter, ter todos os meus
shows, o que eu preciso para falar com meu público, com vídeos e piada gráfica,
como um blog de humor do Diogo Portugal, no mesmo domínio”, adiantou, querendo
fazer as coisas andar na velocidade "das coisas".
O
show em Pato Branco é um retorno, já que fez comédias aqui em outras ocasiões.
“Quero dizer que adoro esse teatro, ele é bem aconchegante, tem um clima bacana
para show de humor. Eu sou paranaense, então me sinto um pouco em casa fazendo
show em meu próprio Estado. É uma cidade bacana, onde costumo brincar com
aquela rixa entre Pato Branco e Francisco Beltrão”.
Escrever seu nome no Google significa encontrar aproximadamente 1.450.000 resultados,
não é pra menos, pois Diogo transita com muita tranquilidade nos diversos
meios. “A internet te dá mais liberdade que a TV de falar o que quiser, mas o
ao vivo tem a resposta na hora, o que é muito legal”.
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