O encanto
da Colina
Verde dos Pássaros
Daiana Pasquim, texto escrito em 7 de
outubro de 2009
Uma estrada íngreme
e sinuosa , demarcada por pedras em estilo medieval desde o sedutor
portão abrem o princípio
do território da Colina
Verde dos Pássaros .
Fica onde se pode chamar
de o ponto mais
alto do bairro
São Roque ,
de Pato Branco ,
onde , ao ser
comprado pelo casal
Rui Afonso Tomé e Beatriz Ana Pozzolo
Tomé, em 1983, não
era nada mais que
um “morro
pelado ”. Esse, aliás ,
foi um dos apelidos
que o então contador
da Palagi recebeu dos colegas de trabalho , acrescido a “O Rui tá louco ”,
fruto da descrença
dos amigos que
viam naquele lugar nada
mais que
um pedaço de terra sem graça . Fundamentado
no amor , o casal
imprimiu ali muita
espiritualidade e hoje
a chácara de 68 mil
metros quadrados
(6.8 hectares ) pode ser
considerada uma das maiores áreas particulares
esverdeadas de Pato Branco .
Da terra , veio a paixão pelos pássaros . Rui Afonso Tomé dedicou 35 anos de sua vida na maior revenda de máquinas
agrícolas existente no perímetro de União da Vitória a Capanema. Contador
e financeiro da Palagi, recorda-se com a descontração
ganhada ao longo de quase
77 anos de vida ,
a serem completados no próximo dia
1º de dezembro , que
“aqui era
tudo limpo .
Uma terra lavrada com
três palmeirinhas e mais
nada ”.
Há 26 anos , o local era desprovido
de energia elétrica
e tinha não
mais que
três residências ,
mas o faro
já sentia a bela
visão da cidade
que poderia
se ter . Assim
como do sol ,
da lua e das estrelas .
Das mais de cinco mil espécies arbóreas
estimadas estarem hoje no quintal , Rui Afonso Tomé conta
que plantou 90% delas somando com as mãos
femininas de Beatriz, que deu roupa de orquídeas
aos troncos espessos ,
mas os outros
10% nasceram pelas mãos da natureza , inclusive a dos passarinhos , que
levam sementes longe .
O nobre senhor
aposentado explica duas razões que o levaram a comprar o
que ele
prefere chamar de “uma colina ”:
a primeira é de fato
a visão da cidade ;
e a segunda , a espiritualidade
e religiosidade sentida no local , analogizando que
na Bíblia , os maiores
acontecimentos foram vivenciados nas alturas , em morros , montanhas
e colinas . Nesse contexto ,
há mais de duas décadas
ele vai à sacada
para fortalecer o equilíbrio emocional ,
a paz interior
e uma série de sensações
indescritíveis que
garante funcionar .
A filmagem de
algumas aves demandou um processo de produção . No quintal ,
ele tem também
o que chama
de “restaurante dos pássaros ”.
Relata que 80% de tudo
que filmou foi conseguido num pé de ameixa , a
fruta de inverno
com bastante
massa , cuja
cor atrai os pássaros .
As tão aguardadas imagens
do gavião e dos periquitos
Rui Tomé guarda como
prêmios . A concentração
dura até
duas horas , em
momentos classificados por ele como de ligação
direta entre “a natureza ,
as criaturas e o criador”.
Rui Afonso
Tomé nasceu em Nova
Roma (RS), na época Antonio Prado ,
há apenas três
quilômetros de sua
alma gêmea
Beatriz, nascida em
Nova Treviso (RS). Formou-se em Direito , mas não chegou a
exercer a advocacia .
Também lecionou, em
idos tempos ,
Matemática Comercial
e Financeira. Até que veio a paixão pela natureza. “Eu sempre fui de me
concentrar mais na parte interior e espiritual. Sempre falo que acho que tenho
um antepassado que é eremita. Posso ficar sozinho até uma semana. Tudo depende
do pensamento. Se você tem um interior com bastante coisa boa e se compenetrar,
assim como vou filmar, às vezes fico duas ou três horas esperando o ângulo do
passarinho e, nesse meio tempo, fazia integração da natureza, com as criaturas,
os passarinhos, o seu Rui e o criador. A gente fica elaborando essas coisas e
começa voar junto, trazendo paz interior”.
No Ocidente,
Aristóteles foi um dos primeiros a escrever sobre as aves em sua obra “Sobre a
história dos animais”, continuada em Roma, mais de três séculos depois, por
Plínio, o Velho. Além de ser motivo de estudo, as aves foram inspiração para
muita produção literária. No Brasil, o escritor Fischer enumera Tom Jobim,
Villa-Lobos e Jorge Amado como alguns que afirmaram publicamente que suas obras
foram grandemente inspiradas pelo canto dos pássaros.
Para Rui
Afonso Tomé, o cantar dos pássaros é uma dádiva de encanto. “O sabiá, quando
está na nidificação (fazendo o ninho), é o primeiro da manhã que canta e o
último da tarde”.
Assim,
construiu na vida condições para escrever seu próprio capítulo da felicidade
tão procurada. “Estar embaixo de uma árvore que você plantou, plantou para
atrair passarinho e ele está aí, o que se quer mais? Eu ponho asas”. Sua explicação
é entrar no contexto, se definindo de forma transcendental : “sou quase um alado”.
“Sempre falo
que acho que tenho um antepassado que é eremita. (...) Sou quase um alado,
define-se o ortitófilo Rui Afonso Tomé
“O Tucano é o
mais lindo. A ave que eu mais gosto é uma ave em extinção. Espécie igual eu não
iria encontrar nunca mais”.
“Eu sou da
parte mais rude, plantar árvores, grama, ir atrás dos passarinhos, mas o
embelezamento é com ela. Nas orquídeas tem os dedinhos dela”.
“Quem tem um
lote com um espaço meio grande, deveria ter uma árvore atrás. Poucos têm. Isso
atrai passarinho. Plante uma árvore que atraia, por exemplo, jaracatiá, o mamãozinho
do mato, que dá no verão, mas o que vê passarinho... quem tem um espaço maior,
plante ameixa de inverno e, maior ainda, o abacate. Por incrível que pareça, as
duas árvores que mais atraem passarinhos são o abacate e a ameixa de inverno”.
“Na redondeza
me dizem: seu Rui, estão aparecendo uns passarinhos que nunca vi antes, não sei
de onde estão vindo. Eu digo: eu sei”.