"Percebo que os cinco pilares da sociedade estão em ruínas: ensino, empresas, igreja, família e Estado, precisam de novas perspectivas"
“Sociedade inovativa" foi um termo ouvido por inúmeros acadêmicos esta semana. É a bandeira erguida pelo empresário, professor e deputado estadual eleito pelo Paraná no pleito de 2014, Luis Augusto Silva, o Guto Silva. Com muita simpatia e próximo de seu público, ele realizou a Palestra Magna com o tema "Desenvolvimento Regional e Inovação”, na abertura da Semana Acadêmica do Núcleo de Engenharias e Arquitetura 2014 da Faculdade Mater Dei, na noite de segunda-feira (28). Bacharel em Gestão de Recursos Humanos; MBA em Gestão de Negócios; com doutorado em andamento em Gestão de Negócios, revelou que foi aluno do Colégio Mater Dei quando menino e que convite da faculdade é uma convocação. Olhando para a plateia formada por acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Engenharia de Produção, afirmou que esta geração viu mudanças em dez anos que ele não viu em 30.
Da experiência de ter passado por cerca de 40 países, provocou o público com modelos regionais e territórios de inovação. “Por que uma ideia não tem valor no mercado?”, questionou. Assim foi discorrendo sobre suas experiências e o seu olhar sobre o mundo.
Para Guto, artefatos tecnológicos como escrever uma carta e envia-la pelo correio, remeter e-mails, usar um telefone de disco, nos aproximam. Contudo, nota que hoje o mundo tem dificuldade de conviver e aí reside um problema, pois a matéria prima da inovação é o “relacionamento”. “Como vamos estimular as pessoas a compartilharem? São coisas importantes da formação humana que temos que incentivar”, defendeu.
Sua área de atuação política está pautada na ciência, tecnologia e educação. Lá no começo dos estudos, Guto começou Direito e depois foi para o curso de Comércio Exterior, no qual conseguiu uma bolsa de estudos por um ano em Portugal. Em seguida, estendeu a bolsa por mais um ano, morando na Espanha. Depois foi para a Inglaterra e trabalhou como lavador de pratos e garçon, por mais dois anos. Passados quatro fora do Brasil voltou e começou trabalhar com comércio exterior, em Joinville. Viajou ainda para a África, Ásia, Oriente Médio, Caribe, quando voltou a Pato Branco, começando a lecionar na Faculdade Mater Dei. “Por todos estes lugares, estive sempre buscando olhar o ser humano, os países, a condição humana. Percebo que os cinco pilares da sociedade estão em ruínas: ensino, empresas, igreja, família e Estado, precisam de novas perspectivas".
Por acreditar que o ser humano é inventivo, Guto Silva defende, nesta entrevista exclusiva, que é nos relacionamentos que as coisas acontecem . Tudo se transforma, quando as pessoas convivem.
O que é inovação e o que pode trazer o desenvolvimento regional?
Tenho trabalhado muito e um de meus objetivos é provocar os alunos. A gente fala tanto em região e costumo orientar um pouco sobre territórios de inovação. Quero mostrar que inovação é diferente de criatividade. As pessoas confundem muito processo criativo com processo de inovação. Inovação precisa de um pouco mais de método, há uma dinâmica toda sobre o tema inovação e a ideia é que é importante a participação e a convivência para que haja inovação. A tecnologia ou a criatividade são produtos frutos de processo de inovação, mas a matéria prima de inovação é o relacionamento. A inovação acontece quanto as pessoas convivem, trocam experiências, conversam e acho que o tema arquitetura e engenharia tem muito a ver com isso. Pensar espaços públicos e privados que propiciem momentos para que as pessoas voltem a conviver, não só no mundo virtual que está tão forte hoje em dia, mas ajam também em processo de lazer, tranquilidade familiar, momentos onde as pessoas possam voltar a conviver. Acredito muito na convivência social e é esta convivência que vai poder nos trazer fatores novos, novas ideias e novos comportamentos. Na palestra quero provocar essa turma de futuros arquitetos e engenheiros a buscarem sempre privilegiarem o convívio humano.
A esta altura, você está um perito em cidades, tanto do Brasil quanto do mundo. Percorreu o Paraná inteiro, além de outros Estados. Como você conceitua a região Sudoeste?
Percebo que tive oportunidades de conhecer as cidades e os territórios. Regiões em todo o Estado e a nossa região tem uma densidade institucional muito forte. Tem um espírito mais cooperativo que outras regiões e diria que tem um patrimônio institucional mais forte que outras regiões, então para poder levantar um tema e discutir, a gente tem essa densidade, pois as instituições participam. Nosso papel como homem público também é estimular as instituições a participarem em cima de uma agenda positiva e concreta, para que a gente possa tirar um pouco dessa frustração. A gente é organizado, mas a sensação é que as conquistas que a gente almeja não tem a mesma velocidade que a demanda social tem. Falta um pouco de método nessas instituições, de governança, de como trabalhar e unir essas instituições para a gente buscar os recursos, investimentos ou mesmo a participação de outros entes, para que possamos ter ganho real e concreto.
Em exemplos, o que a gente precisa melhorar? O que é urgente?
Temos uma demanda muito forte por infraestrutura. O Sudoeste carece de infraestrutura adequada, há 30 anos que não temos isso. O que quero demonstrar aqui também é um pouco da necessidade da participação do cidadão comum ou das instituições neste processo de construção. Cada vez mais ainda brinco: vem pra rua! E a resposta que a gente obteve foi maior participação dos governos. Temos que reduzir a participação dos governos, não ampliar. O governo não é mais solução para resolução dos problemas sociais. Esse exercício do cidadão, das entidades, dos colégios e faculdades participando deste novo processo amplia o que a gente chama de “cidadania”. É esta cidadania participativa que precisamos colocar na mente principalmente dos mais jovens, incutir nas crianças essa necessidade de construção conjunta para que a gente tenha algo realmente concreto. Percebemos que a gente reclama, mas não participa. Por outro lado, a gente é organizado, mas como que vamos de fato mudar o nosso entorno? São discussões importantes para a nossa região.
Nós do Sudoeste somos excelentes em que, em sua visão?
Inovação. Sempre digo que temos um pouco da síndrome do Pinscher, o cachorro pequeno. A gente late, late, o Sudoeste é muito forte e consistente, mas é preciso que as pessoas venham de fora para conhecer e falar: nossa, como vocês estão avançados na área tecnológica; como estão avançados no parque; como a semana Startup revelou um capital humano diferenciado. Acho que o grande potencial do Sudoeste é o capital humano, é um povo diferenciado e qualificado. Talvez a nossa fragilidade seja como extrair essa intelectualidade, característica que nós temos, para poder agregar valor à nossa sociedade e a forma como a gente vive. Nosso maior patrimônio são as nossas pessoas.
Texto: Daiana Pasquim (DRT/PR 5613)/ AC Grupo Mater Dei
Fotos: Lucas Piaceski
Assessoria de Comunicação
Agência PQPK
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