sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Equilíbrio emocional das famílias e financeiro das escolas em pauta no Sinepe-PR



Índice de alunos em escolas particulares em Pato Branco é altamente mais elevado que do restante do Sudoeste do Paraná: 18,5%

De um lado da balança, as condutas emocionais que fazem com que a pessoa cresça em educação, adquira respeito ao próximo e reconhecimento a si mesmo. Do outro, os investimentos e custos necessários para obter condições e espaço social de desenvolvimento e aprendizagem neste país. Foi esse o equilíbrio que o Sindicado das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR) trouxe a Pato Branco na última quarta-feira (22) e a todas as regionais do Estado nesta última semana, ao levar a dupla de palestras com o psicólogo e mestre em educação Marcos Meier e o engenheiro e presidente do Sinepe-PR, Jacir José Venturi. O encontro em Pato Branco aconteceu no auditório Algemiro Pretto, da Faculdade Mater Dei e foi prestigiado por representantes de todas as escolas particulares de Pato Branco e de algumas escolas da região. Educadores tiveram tanto um panorama sobre as perspectivas econômicas do país para o setor educacional, quanto norteamentos no trato entre família e escola, tão necessários para o bom convívio na comunidade escolar. 
A visão dos educadores é que a configuração atual das famílias acaba obrigando a escola a carregar pesos que antes não precisava resolver. Ao mesmo tempo, a situação macroeconômica do país comprova que vem tempestade pela frente, sem boas perspectivas de crescimento para as escolas particulares, que vivem neste momento o que o Sinepe-PR classifica como “concorrência predatória”, devido ao tempo das rematrículas. Diferente da Capital onde esta “safra” acontece no mês de setembro, o sindicato nota que no interior é um momento adiado para final de outubro e o mês de novembro, quando aconselha que a tendência mais eficaz é as escolas se unam para tentar antecipar o momento de as famílias restabelecerem seus vínculos com a instituição de ensino, para que tenham mais tempo de programar o próximo ano letivo, como já acontece em Curitiba. 
Dados do universo particular: no Paraná há 2.300 escolas privadas da educação infantil ao ensino superior, o que representa uma população de 630 mil alunos. Desses, por sua vez, 164.600 são do Sudoeste, pertencentes ao universo da educação básica (educação infantil ao ensino médio) e 14.210 no ensino superior (8,6% dos alunos de particulares do Estado são da região). 
O índice de alunos em particulares em Pato Branco é altamente mais elevado que do restante do Sudoeste do Paraná: 18,5%. Do total de 19.600 alunos na educação básica, 3.600 estão nas escolas privadas do Sudoeste. Do total de 7.400 alunos das instituições de ensino superior (IES), 3.750 estão em IES particulares na modalidade presencial (57%). Já no índice IES de educação a distância (EaD), os alunos de escola privada somam 97,2%, ou seja, 802 alunos, dos 825 graduandos de EaD.  
O que penaliza a situação da educação privada brasileira é uma distorção: enquanto outros países não cobram impostos dos pais que colocam seus filhos em escolas particulares por compreender que estas famílias desobrigam a nação de prestar uma educação de qualidade, mais que um terço (38%) do que os pais brasileiros pagam em mensalidades são de impostos. Com diferentes reflexões, confira as entrevistas que realizamos com cada qual:  


Parte 2: ENTREVISTA em Psicologia Educacional
Marcos Meier explica como educar e castigar sem ser perverso
Matemático e psicólogo, Marcos Meier é mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autor do livro “Desligue isso e vá estudar - orientações práticas para pais”, da Editora Fundamento. 

Por que trazer em discussão “O professor e seu papel junto da família” para as regiões do Estado?
Uma das maiores dificuldades dos professores hoje em dia é a disciplina dos alunos. Hoje em média, cada professor gasta 15 minutos da sua aula mandando o aluno abrir o caderno, ficar quieto, guardar o celular e o notebook, parar de fazer brincadeiras.Até que ele sente e se concentre leva 15 minutos, é muito tempo perdido. Isso não é no início do dia, é toda aula. Tenho conversado com professores no Brasil inteiro e isto vem ocorrendo no país todo. Precisamos achar uma solução para isso. O que temos percebido é que essa criançada que antigamente já vinha para a escola sabendo: com licença, por favor, muito obrigado, desculpe, eu errei. Hoje chega e não sabe. As crianças não dizem isso, têm um comportamento inadequado, não sabem respeitar o colega, não sabem ficar em silêncio e se concentrar. O que precisamos fazer? Dentro de sala de aula, cada professor deve educar essa outra área que antigamente não era da escola. 

Como ajudar os pais a exercer sua autoridade?
O que acontece é que a gente faz um bom trabalho, mas têm pais que não estão sabendo exercer a sua autoridade. O que estamos propondo é que a escola traga as famílias para a escola e as ensine. Vamos falar sobre educação de filhos, sobre os princípios, como desenvolver autonomia e fazer com que uma criança respeite as outras, ame o trabalho, respeite as pessoas. Como fazer isso? A escola sabe, porque nós somos educadores. A gente estuda isso, então vamos ensinar a esses pais que não estão sabendo o que fazer, como fazer. 
Hoje com acesso às novas tecnologias também está havendo um trabalho muito grande, porque não sabem limitar. Muitos não sabem nem lidar com isso. O filho e o adolescente sabe, mas os pais não. É importantíssimo que a gente faça agora uma parceria entre família e escola, pois os objetivos são iguais. Quais são os objetivos da escola? Que a criança aprenda bastante, se torne um cidadão respeitável, com valores e princípios, educado, que tenha conhecimento e saiba os colocar em prática. Quais são os objetivos da família? Os mesmos. Se a gente tem os mesmos objetivos temos que parar de brigar e fazer parcerias para fazer este trabalho da melhor forma com as crianças. Esse é o recado geral.

Quais são as fórmulas para educadores no abordar a criança e quanto a aproximar a família da escola?
Muitos pais dizem: “Não vou em reunião de professor e de escola, porque a gente vai lá e só dão bronca ou uma lista de avisos. E não vão mais. Por que? Porque a reunião em si é desgastante e chata. Também temos que mudar isso e fazer reuniões que tragam conhecimentos aos pais, que eles saiam dizendo: "puxa, valeu a pena ter vindo, nossa, aprendi um jeito legal de colocar limites, um jeito de como castigar sem ser perverso, sem ser ruim, sem diminuir a criança. Eu aprendi coisas boas e vou vir na próxima reunião!". Ela tem que ser voltada para os pais, tem que ser positiva e trazer coisas boas aos pais, daí eles voltam. Agora se for pra dizer: seus filhos estão fazendo muita bagunça, não respeitam os professores, não fazem a lição de casa. Mas e agora? Como eu faço para ele respeitar e estudar de verdade? Preciso que a escola me ensine.

Como educar e castigar os filhos, sem ser perverso?
São várias as dicas. Os pais têm errado muito na hora de trazer castigo. A primeira coisa é que existe uma diferença grande entre erro e transgressão. Erro você nunca pune. Ele acontece porque falta conhecimento, habilidade, coordenação motora, conhecimento de como é que se faz o certo, distração ou falta de técnica. Por exemplo, a criança está almoçando e sem querer, bate no copo, que vira e derrama. Vai castigar a criança? Foi uma distração! Ela não fez de propósito! Ou você manda a criança lavar louça e não ficou legal, mas por quê? Ela foi irresponsável ou não sabia como fazer da melhor forma? Aos erros a gente não traz punição nunca, a gente ensina como fazer certo. É totalmente diferente de transgressão, que é o erro intencional, a criança sabe que não pode fazer, sabe qual é o castigo que vem se fizer e, mesmo assim faz. Já é maldade, é intencional e totalmente diferente. Quando é intencional para causar dor, transgredir uma regra, sabendo qual é a consequência temos que trazer uma punição.

Como punir?
Tem gente que dá mensagens totalmente erradas para a criança. Fica quieto aí, senta e vai ficar pensado. Pensar é castigo? Se você associa pensamento com castigo não é uma boa mensagem. Tem escola que manda aluno de castigo na biblioteca, olha outra mensagem: ler é ruim. Não pode fazer isso. O castigo tem que ter ligação direta com a transgressão. Se a criança não fez três lições de casa, tem pai que diz assim: vai ficar um mês sem televisão. O que a televisão tem a ver com a lição de casa? Nada! Se não fez, o pai deve dizer: senta aí e vai fazer. “Ah pai, mas agora não vale nada”. Azar seu, quem mandou você não fazer? Agora vai fazer mesmo não valendo nota, esse é o seu castigo. Ele tem que ter ligação com a transgressão.

Qual é o limite do castigo?
Temos que ter bom senso no tempo do castigo. Vai ficar sem internet até o final do ano. Quem consegue? Nem a gente não consegue. A criança não dá conta disso. Outra: você não consegue fiscalizar, nem dê esse castigo, dê um mais adequado. Outra dica: converse com o filho antes de uma possível transgressão e combinem o castigo. É impressionante isso, mas é isso que funciona. Se você combinou, está concordando com o castigo e, uma vez concordando, se houver a  transgressão não é o pai que é o carrasco, a mãe que me odeia ou que é maldosa. Eu recebi o castigo porque combinei. Sai esse peso dos pais de castigar, o medo de o filho achar que não o ama mais. Não. Você vai castigar o seu filho porque combinaram isso. O filho precisa aprender que toda transgressão tem uma consequência. 


Parte 3: ENTREVISTA em Realidade Econômica
Presidente Jacir Venturi apela para urgências da macroeconomia brasileira
Educador há 44 anos, ele atualmente é o coordenador do Núcleo de Engenharias da Universidade Positivo, tendo já passado pela Federal do Paraná, cursos Pré-vestibulares e a PUC-PR. Jacir José Venturi é formado em Engenharia Civil e Matemática, especialista em Educação e Engenharia pela UFPR, no segundo mandato de presidência do Sinepe-PR.

Atualmente, quais são as medidas de responsabilidade do professor no processo de educar?
Há muitos anos que venho pelo interior trazendo informações e palestras a nossos gestores de escolas particulares, e temos um compromisso com os professores e entendemos que eles têm que se comprometer com as gestões, pois entendemos que muitas vezes são a fonte de conflitos com a família ou com o aluno. Muitas vezes o professor pode resolver o problema de um aluno que está passando por uma fase difícil em casa e o educador tem essa percepção e proximidade. As vezes tem a questão de problemas familiares mais graves e o aluno cai em desempenho. O professor percebe e tem que estar comprometido, muito ligado, deve haver uma unicidade de voz junto com a direção. É assim que um bom educador tem esse comprometimento com o educando, como também tem com a família. 

Como é o cenário hoje para as escolas particulares e o que se deve vislumbrar de futuro?
Sempre tivemos muito otimismo nos últimos dez anos, pois estávamos num processo de crescimento em matrículas e em investimentos e, portanto, em qualidade de ensino. Temos que buscar qualidade de ensino, pois sem qualidade não sobrevivemos. Nós partimos há dez anos de 12%, ou seja, cada 100 alunos, 12 eram matriculados em escolas privadas. Enquanto que hoje estamos com 18%, com um detalhe importante: nós já tivemos há dez anos 55 milhões de alunos na educação básica. Hoje nós temos 50 milhões. Caiu portanto o número de alunos da educação infantil até o ensino médio. Nós representamos hoje 75% das matriculas no ensino superior: 3/4 das matrículas estão nas IES particulares, tanto no Paraná quanto no Brasil. Representamos evidentemente um total de 5,2 milhões de matrículas no ensino superior no Brasil. 

Em sua palestra mencionou que vem tempestades na macroeconomia brasileira. Por quê?
Estamos diante de uma relação matemática. Não tem como o país sobreviver nessa situação que está hoje. Tem que haver mudança na macroeconomia, porque todos os indicadores econômicos estão num plano inclinado descendente. Tem que haver um governo novo, seja quem for, Aécio ou Dilma, para fazer uma mudança, para conter a inflação, diminuir o nosso endividamento externo que a cada ano vem aumentando, diminuir nosso endividamento interno que está em 2 bilhões de reais. O pior imposto que tem para o pobre é a inflação. O rico e a classe média se protege aplicando o seu dinheiro no banco que sempre paga mais que a inflação. O pobre não tem como se proteger. Não é nem uma questão só de economia, é uma questão humanitária preservar a capacidade de salário de nosso trabalhador. Temos que ter a seguinte perspectiva: se teremos uma contenção forte no crédito: não podemos fazer endividamento pois o juro vai aumentar, não podemos fazer investimentos pesados e, além do mais, 22% do que as famílias recebem estão comprometidos com dívida. E o pior, nunca o índice de inadimplência esteve tão elevado, pois houve muita fartura de crédito, muita facilidade e claro que o povo não tem muita cultura, se endivida e acha que vai dar. Minha Casa, Minha Vida também está em endividamento. Tudo isso tem que ser revisto para o próximo governo, senão as gerações vão pagar um preço muito alto. Passamos por um período de bonança, mas isso não tem como perdurar, todos os indicadores demonstram isso.

Por que no Brasil 1/3 do que os pais que têm filhos em escolas particulares pagam vai para governo?
Quando o pai coloca um filho numa escola particular, para fazer uma conta fácil, se ele paga uma mensalidade de R$ 900,00, ele poderia estar pagando simplesmente R$ 600,00, se não houvessem os tributos. Ou seja, um terço do que o pai paga vai para o governo. Em outros países não se cobra imposto da escola particular, pois o governo entende que se o pai está colocando o filho numa escola particular está desonerando uma obrigação do estado e assim sendo, porque vou penalizar o pai cobrando dele um imposto em cima? Se você tem um filho ou filha em escola particular, evidentemente já paga tantos impostos para ter uma educação de qualidade que seria obrigação da escola pública, ou mesmo paga um plano de saúde porque a saúde pública não é boa, mas você tem que tirar dinheiro do seu salário, apesar de todos os impostos que paga, para adicionalmente ter essa despesa que também vai ser onerada ao colocar o filho numa escola particular, como também vai ser onerado se paga um plano de saúde. Tem imposto em cima também.

O Sinepe-PR tem ido a Brasília brigar por menos impostos?
Claro que o governo não pode, não quer abrir mão, no sentido de fazer um ajuste de que quando o pai coloca o filho numa escola particular, está desobrigando o governo de fazer essa educação. Enxergar, evidentemente que enxerga, mas até porque o governo está deficitário e gastando mais do que recebe. Esse é um pedido que fazemos há gestões, de todas as vezes que fomos a Brasília, para desonerar a escola particular, não em benefício do proprietário porque quando a concorrência é tão forte entre nós, quando isso acontecer, automaticamente as mensalidades vão desabar, vão cair bastante. E outra: o governo não tem essa pressão de oferecer um ensino de qualidade e não consegue. Não que todas as escolas particulares sejam boas, também temos particulares ruins, mas estas com o tempo vão se acabando, pois o pai também não é bobo de pagar uma escola que não tem qualidade de ensino. Temos que preservar a qualidade de ensino pela nossa sobrevivência e porque é o projeto da maioria dos educadores.

Mesmo com todo esse cenário embrulhado, se tiver que fazer cortes de gastos, deve-se preservar a educação?
Foi feita uma pesquisa sobre qual é a prioridade da nova classe média. São 60 milhões que saíram da classe D e vieram para a C, passaram a ter um carro, casa, e colocaram seus filhos em escolas particulares, pois a percepção da família é de que a educação é a segunda prioridade, logo após alimentação. A família deslumbra como uma forma de ascensão social. A melhor forma é pelo trabalho e estudo. Essa percepção está muito clara na população, ter ensino de qualidade para que o filho se forme, tenha um bom emprego e ascensão social. 

Texto: Daiana Pasquim (DRT/PR 5613)/ AC Grupo Mater Dei
Foto: Lucas Piaceski
Assessoria de Comunicação
Agência PQPK


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