O processo criativo do chargista e arte-finalista do Diário do Sudoeste, Lucas Piaceski, que já compôs mais de 200 músicas e 40 melodias
Daiana Pasquim
Curioso é que quem criou essa página foi a própria fonte. É raro isso acontecer, para não dizer impossível. Mas nesta capa de hoje trazemos o perfil do chargista do Diário do Sudoeste Lucas Piaceski, que é também arte-finalista do jornal, mas ocupa grande parte de sua vida como compositor e cantor. Ao revelarmos detalhes disso, não seria demais dizer que essa capa é sobre o talento. Lucas Piaceski tem o genoma de Eric Clapton, Neil Young, Ray Charles, Jimi Hendrix, Bob Dylan e Miles Davis, mas é um ser único. Uma releitura própria. “Tenho sorte de ter boas influências musicais, que sempre apareceram involuntariamente para mim. Na verdade, aparecem pra qualquer pessoa, depende de você querer viver na poesia do Bob Dylan ou no choro do Luan Santana”. Entre o rol de influências musicais bem pautadas no jazz, blues e funk, se for para se conceituar, resume “Sou um cantor de blues. Quem me assistir tocando pode dizer “isso não é blues, esse cara engana as pessoas”, pode até ser verdade, pois todo musico é mentiroso, mas se prestar atenção nas minhas musicas, vai achar vestígios de blues em todas elas”, comenta.
Aldeia Musical e bandas
Essa prova de originalidade poderá ser medida justamente neste domingo (31), na 3ª etapa da “Aldeia Musical” realizada pelo Sesc Pato Branco, a partir das 18h. Antes da banda Paraná Blues se apresentar, o palco do auditório é de Lucas Piaceski, que fará covers de Bob Dylan, Neil Young e The Band, mas metade do show será de músicas compostas e criadas por ele mesmo. Uma oportunidade ímpar de mostrar a essência de sua arte. Entre elas estão Name In The Fire, My Boss and your Prostitutes, Moving Like Stones e uma que concluiu no último final de semana e ainda está escolhendo o nome perfeito, mas deverá se chamar Swift and Clean, que nasceu numa nova fase do cantor. “Tocar sozinho é muito gratificante e livre, mas muito mais difícil, porque não existe uma banda pra te apoiar se você errar. É uma apresentação de identidade, as pessoas vão ver quem você é de verdade”.
Certamente, vai ser uma experiência bem diferente da que vem vivenciando com a “The Loco Motive Blues”, a banda composta por nove músicos profissionais, que em dois shows no Bauhaus Club e Porão neste mês de julho fez a galera vibrar. Os próximos serão em agosto, no Casamata dia 20; e no Confidência, em Francisco Beltrão, dia 27. “Sempre quis tocar em uma banda, então qualquer oportunidade que aparece de entrar em uma banda eu vou agarrando, mas tocar em duas já está bom, não pretendo entrar numa terceira banda. Tenho sorte de tocar com grandes músicos da cidade. Para começar, o trio, “The Propellers”, que surgiu de ensaios numa estufa de pintura, com o baterista, Luis Henrique e o baixista, Matheus Angeli. Mais recentemente com a Loco Motive Blues. A banda está tomando uma proporção cada vez maior, pois envolve muitas pessoas”, comenta satisfeito.
Desde a gravação do seu CD demo, em 2009, vive um crescimento sutil, mas meteórico. Entre os seus planos futuros está um acústico romântico. “Estou com um projeto já faz algum tempo, de gravar dez músicas com apenas violão e voz. Todas estão escritas em um livro azul e pretendo dar vida a elas em estúdio no próximo mês”. Escolher o repertório é a questão. Lucas Piaceski já compôs mais de 200 músicas, todas em inglês. “Claro que nem metade disso virou música completa. Pra compor você tem que estar constantemente tentando, imagina que dessas 200 sobraram apenas umas 40”.
Se lapidando
Um artista está sempre se lapidando, mesmo que involuntariamente. Mas no último ano, Lucas deu um salto criativo grande e trabalha suas composições com alto nível de exigência, escolhendo cada palavra. “Quando acontecem mudanças na sua vida, reflete totalmente nas músicas, pra melhor ou pior. Minha sorte é que dei um salto positivo e estou com mais inspiração do que nunca pra escrever. Pra nascer uma boa música você deve escrevê-la com toda a sinceridade do mundo, sem enganar a você mesmo ou a quem vai escutar a música depois”.
Soma-se a isso o fato de ter começado a trabalhar como arte-finalista no Diário do Sudoeste, onde simultaneamente aperfeiçoou sua veia de desenhista. Como a cabeça funciona pra administrar tudo isso? “Se você não organizar as idéias, com 20 anos é capaz de já perder todos os cabelos. Gosto de separar as idéias por setores, se você deixar as coisas misturarem, vai perder o controle e o equilíbrio. Não tem como escrever uma música de amor e desenhar uma charge sobre o aumento da inflação ao mesmo tempo, não vai sair nada de produtivo”.
Desde os três anos de idade, ele sempre desenhou, apreciando bastante os tracejados de Benett, Paixão, Henfil e Marchesini da Gazeta do Povo, Glauco, Adão e Laerte, e os internacionais, como o Glenn MacCoy, do New York Times e Saul Steinberg. “Era de brincadeira até eu entrar no Diário. Quando as charges começaram a ser publicadas fiquei muito satisfeito, porque foi a primeira vez que meu trabalho se tornou público e os desenhos ganharam forma e vida. Agora tenho que desenhar pro jornal e não só pra mim”.
As da vez são Cafife Total, publicadas nas páginas centrais desse Caderno 2. “As tiras do Cafife Total são meio malucas, são linhas de pensamento que gosto de compartilhar. Falam de problemas clichês da sociedade moderna, podem falar desde brigas de casal até críticas a cirurgia plástica desnecessária. Abrange problemas comuns e complexos, de forma descontraída. Às vezes a tragédia é tão triste que você tem que amenizar com uma piadinha. Pretendo publicar as tiras todos os dias na pagina de variedades do Diário do Sudoeste, assim que tiver material e tempo suficiente pra isso”, comenta.
Como as ilustrações são publicadas gradativamente, diz que ainda está conquistando espaço. “Estou no processo de “acostumar” o leitor comigo fazendo gracinha e criticando todo dia. Mas já recebi boas respostas de vários amigos e conhecidos com as tiras, charges e ilustrações. Espero continuar deixando meu traço cada vez mais familiar e característico e deixar que o leitor crie uma identidade própria pra isso”.
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